Dez postagens e muito conhecimento científico depois, chegamos hoje à última postagem do blog. Acredito que, nesse tempo, os leitores do blog puderam ter uma noção um pouco mais aprofundada a respeito das características dos principais metais. Mostramos que, mesmo que com propriedades tóxicas, a maioria dos metais têm importância significativa em nosso metabolismo e, quando não, grande importância econômica. Por isso, acredito que os leitores puderam criar a noção de que o controle do despejo dos metais pesados é um tema muito mais delicado do que pode parecer (já que envolve aspectos econômicos e, por conseguinte, o interesse de grandes indústrias). Mostramos ainda aspectos mais ligados à semiologia da intoxicação por metais pesados, aspectos esses voltados ao público leitor de estudantes de medicina. Na postagem de hoje, gostaria de abordar, portanto, a intoxicação por metais pesados em si, e de um ponto de vista bioquímico mais geral.
Antes de tudo, é importante lembrar que os metais pesados, em sua grande maioria, são compostos de alto peso molecular e, portanto bastante instáveis e reativos. Compostos reativos, em nosso organismo, interagem com um vasto número de outros compostos e, caso estes façam parte de mecanismos metabólicos essenciais, causam desequilíbrios danosos ao corpo. Aí entra o primeiro meio de prejuízo dos metais pesados aos nosso tecidos: eles estimulam a formação de espécies reativas de oxigênio (ROS) ou, em outras palavras, compostos altamente reativos propiciam a formação de outros compostos altamente reativos e isso, por meio de interferências em processos metabólicos essenciais, é altamente prejudicial para nós.
Todavia, esse não é o único meio que os metais pesados se usam para prejudicar nossa saúde. Existem ainda dois outros que consistem, basicamente na mesma coisa: interferir na atividade de proteínas e enzimas proteicas. A diferença é o meio em que isso se dá. Os metais têm a capacidade de atacar diretamente o aminoácido em diversos grupos distintos, tais como tiol, histidina e carboxila, alterando assim a atividade da proteína como um todo. A outra via se dá através da substituição, pelos metais pesados, de metais essenciais como cofatores em proteínas.
No fim das contas, todas as maneiras vão levar a um mesmo fim: lesar o nosso organismo. Dessa forma, quase sempre podemos aplicar o mesmo tratamento para diversos casos. Além de medidas paliativas (afastar o paciente da fonte de contaminação) o tratamento mais comum e eficiente costuma ser o de quelação (já explicado em outra postagem). Todavia esta não é a única opção. Ainda que não muito aceita no meio acadêmico, a homeopatia é uma opção viável para quem nela acredita. Existem muitas ervas que contêm antioxidantes e têm efeitos desintoxicantes, como o cardo de leite, bardana, que podem ajudar a desintoxicar o corpo de metais pesados. Outras ervas, como a spiruline certos tipos de algas marinhas podem ser benéficas porque ajudam a reconstruir o sistema digestivo.